domingo, 10 de abril de 2011

Somos xenófobos?

Amiúde se interpõe em nossa vida comunitária, de forma constrangedora, o preconceito contra os estrangeiros. Leia-se estrangeiro todo aquele não nascido em nosso município, mesmo que o tenha adotado como terra natal. A todo momento, há evidências dessa xenofobia que agora começa a tornar-se um problema social na medida em que observamos gente de fora chegando para estudar na nova universidade. Anteriormente o preconceito citadino voltou-se contra os trabalhadores da Usina São José, grande parte nordestinos e da raça negra. Esses, que já partiram com o término da obra, sentiram na pele a exclusão social a que foram submetidos em festas populares e eventos afins. Tiveram de inventar sua própria diversão. Também foram alvos de desconfiança, quando a comunidade deixou transparecer seu receio diante de um suposto aumento do número de roubos e assaltos. Um medo infundado, pelo que se viu depois. Quem assaltou efetivamente era gente daqui mesmo, como dizem, os mesmos de sempre.
Mas eu mesma, vejam só, nascida descendente de pioneiros que fundaram este município, já fui vítima de xenofobia por ter estudado fora em uma época em que nem havia curso superior por aqui. É como se ter saído do reduto, seja por qualquer motivo, fosse um crime inafiançável. O mais triste é ver tal atitude partir de lideranças sociais, que deveriam dar o exemplo em termos de tolerância e respeito.
Será isso reflexo do baixo nível cultural ao qual chegamos após décadas de pobreza e abandono por parte dos governos federal e estadual? Ou como reduto de alemães herdamos uma repulsa a quem não pertence a essa descendência de imigrantes que desenvolveu esse chão? Em parte acredito que há ingredientes desses dois fatores nessa explicação. Certamente o atraso intelectual somado a uma paralisia econômica que deixou o município imutável por décadas, sempre dominado por uma mesma elite, está na base dessa intolerância que torna-se gritante agora que o município expressa um arroubo de desenvolvimento com os novos empreendimentos.
Parece-me claro ainda que a xenofobia, incrustada muito fortemente nessa elite, aflora em momentos de disputa por poder, servindo, portanto, a propósitos políticos com a finalidade de desacreditar ou desqualificar quem vem de fora perante a comunidade. Dentro dessa mentalidade, que tenta perpetuar-se a todo o custo para que não haja mudanças no status quo, pertencer geneticamente a esta terra tem mais importância do que ter formação educacional ou ser um agente/cidadão competente dentro da comunidade.
Não é possível que aceitemos essa discriminação como argumento sério em qualquer tipo de debate. É preciso expurgá-la o mais depressa possível de nosso meio sob pena de permanecermos estagnados em nosso desenvolvimento, arraigados nas mesmas premissas e prerrogativas que impedem o usufruto da diversidade na resolução de nossos problemas, principalmente aqueles perpetuados pela falta de ação dessas mesmas elites preconceituosas.
Sim, somos xenófobos, mas o momento é apropriado para mudar essa mentalidade. A chegada de novos forasteiros a cada ano para estudar - rezemos para que esse número cresça rapidamente - significa que o sentimento de exclusão sofrido por estes será o estopim que deflagrará uma reação mais forte a esse comportamento tão nocivo a maior parte da comunidade. Precisamos estar atentos para apoiar este movimento que poderá nos libertar desse aspecto obscuro e indigesto de nossa personalidade social.

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