sexta-feira, 29 de abril de 2011

Titanic: que história!

Passaporte de Embarque
O naufrágio do Titanic é uma daquelas histórias que quanto mais você conhece mais você se apaixona. Estive na exposição em Porto Alegre que apresenta peças recolhidas do transatlântico a partir de 1985, quando os destroços do navio, que afundou em abril de 1912, foram encontradas a 4 mil metros de profundidade.
É uma experiência única sentir a recriação do clima e do ambiente de época e das condições do navio da White Star Lines. Saí impressionada, pois é difícil não sensibilizar-se com as histórias daquelas pessoas cujos destinos foram marcados para sempre. A maioria delas sofreu o desespero de não ter opção de salvamento, dado que o número de botes era insuficiente. Outras certamente tiveram a alma dilacerada justamente por estarem à salvo mas precisarem presenciar a morte de mais de mil pessoas, entre elas familiares próximos. Detalhe: mais 300 pessoas além das 700 resgatadas poderiam ter sido salvas se toda a capacidade dos botes tivesse sido utilizada, atitude racional certamente impedida pelo pânico do momento do desastre.
20 casais em lua-de-mel viajavam no Titanic, entre eles os espanhóis Victor Penasco y Castellana e Maria Josefa de Soto e Vallejo. Eles estavam em Paris quando decidiram atravessar o oceano em uma aventura romântica. Para enganar a mãe de Victor, que era contra a viagem, o casal deixou seu mordomo em Paris, instruindo-o a enviar vários cartões postais já escritos para a Espanha enquanto eles estivessem viajando. Eles embarcaram na cabine 65 do navio, na primeira classe, mas só Maria, que tinha 17 anos, sobreviveu.
Histórias assim permeiam a exposição, maravilhosas e tristes. Pertences dos passageiros, inclusive cartas protegidas por carteiras e malas de couro que as impermeabilizaram durante o século em que ficaram submersas, são uma parte valiosa da exposição. Assim como frascos de perfumes cujas essências ainda podem ser percebidas. Simplesmente impressionante os pisos resgatados dos salões e a louça com detalhes em ouro que expõe a riqueza dos magnatas da época em contraste com o ambiente perverso das caldeiras, onde trabalhadores lançavam carvão 24h nas fornalhas em uma temperatura em torno dos 40 graus. Praticamente todos morreram.
Irresponsável a atitude do comandante, que apesar dos vários avisos de icebergs que lhe chegaram horas antes do acidente decidiu manter o navio a todo vapor, como atestou um dos equipamentos encontrados no fundo do mar, que marcava no momento da tragédia "velocidade máxima adiante".
Na experiência sensorial que é visitar essa exposição é possível ouvir a reprodução do barulho das máquinas nas cabines de terceira classe, onde morreu a maior parte das pessoas, que não encontraram facilidades para subir ao convés na hora do acidente. É possível tocar em um iceberg e perceber a temperatura em que a água do oceano se encontrava naquela noite. É um frio que primeiro provoca dor e depois faz adormecer os músculos. Descobre-se então que a maioria das pessoas não morreu afogada, mas de hipotermia, absolutamente congelada.
Há farto material sobre a incrível história do Titanic na web. Seguem dois links - um oficial da exposição
onde podem ser encontradas mais histórias fantásticas através de relatos dos sobreviventes, e outro com um video que mostra como está hoje o navio no fundo do oceano.

Exposição 

Expedição 2010 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Prisões no ócio

Todo ser humano precisa trabalhar para ter dignidade. Sentir-se útil é, antes de mais nada, dar sentido à própria vida. Por ferir um princípio tão básico de nossa existência é que é incompreensível que presos não trabalhem no Brasil. Nesse caso, além de resgatar a dignidade, o trabalho torna-se a única forma de recuperação e reinserção à sociedade desses indíviduos quando isso é possível.
Exemplos não faltam. O presídio de Taquara foi considerado modelo no Rio Grande do Sul por ter uma infra-estrutura carcerária mínima e, principalmente, por dar condições de produtividade a seus detentos. Desde que começaram a fabricar chaveiros para uma empresa, não houve mais tentativas de fuga por lá. Então é de se imaginar os motivos que levam o Estado a deixar no ócio outros milhares de apenados quando é tão caro mantê-los. Trancados em uma cela o dia inteiro obviamente que só podem pensar em dar continuidade a seus crimes ou planejar rotas de fuga. Sabem que mesmo se cumprirem sua pena de forma correta serão segregados pela sociedade. Quem lhes dará um emprego quando sairem da prisão?
Por outro lado, presos que têm a chance de serem produtivos não apenas recebem a possibilidade de aprendem a dar valor ao trabalho como recuperam a esperança de encontrar um lugar ao sol assim que deixarem as penitenciárias. Também desoneram a sociedade do ônus de custear-lhe a estadia nas prisões e a manutenção de suas famílias que ficaram desprotegidas, causa de revolta para muitos cidadãos.
Mais do que qualquer outra pessoa, os presos necessitam trabalhar, pois é através de uma atividade produtiva que podem tornar-se efetivamente cidadãos. Sem isso, nossas prisões vão continuar sendo depósitos de gente sendo preparadas para a clandestinidade. Quem de lá sair, mesmo com boas intenções, será visto com temor e desconfiança pela sociedade e tem grandes probabiblidades de para lá retornar. Hoje o índice de reincidência ao crime no Brasil é de 70%, um dos mais altos do mundo. Prova do fracasso de nosso modelo prisional.

domingo, 10 de abril de 2011

Somos xenófobos?

Amiúde se interpõe em nossa vida comunitária, de forma constrangedora, o preconceito contra os estrangeiros. Leia-se estrangeiro todo aquele não nascido em nosso município, mesmo que o tenha adotado como terra natal. A todo momento, há evidências dessa xenofobia que agora começa a tornar-se um problema social na medida em que observamos gente de fora chegando para estudar na nova universidade. Anteriormente o preconceito citadino voltou-se contra os trabalhadores da Usina São José, grande parte nordestinos e da raça negra. Esses, que já partiram com o término da obra, sentiram na pele a exclusão social a que foram submetidos em festas populares e eventos afins. Tiveram de inventar sua própria diversão. Também foram alvos de desconfiança, quando a comunidade deixou transparecer seu receio diante de um suposto aumento do número de roubos e assaltos. Um medo infundado, pelo que se viu depois. Quem assaltou efetivamente era gente daqui mesmo, como dizem, os mesmos de sempre.
Mas eu mesma, vejam só, nascida descendente de pioneiros que fundaram este município, já fui vítima de xenofobia por ter estudado fora em uma época em que nem havia curso superior por aqui. É como se ter saído do reduto, seja por qualquer motivo, fosse um crime inafiançável. O mais triste é ver tal atitude partir de lideranças sociais, que deveriam dar o exemplo em termos de tolerância e respeito.
Será isso reflexo do baixo nível cultural ao qual chegamos após décadas de pobreza e abandono por parte dos governos federal e estadual? Ou como reduto de alemães herdamos uma repulsa a quem não pertence a essa descendência de imigrantes que desenvolveu esse chão? Em parte acredito que há ingredientes desses dois fatores nessa explicação. Certamente o atraso intelectual somado a uma paralisia econômica que deixou o município imutável por décadas, sempre dominado por uma mesma elite, está na base dessa intolerância que torna-se gritante agora que o município expressa um arroubo de desenvolvimento com os novos empreendimentos.
Parece-me claro ainda que a xenofobia, incrustada muito fortemente nessa elite, aflora em momentos de disputa por poder, servindo, portanto, a propósitos políticos com a finalidade de desacreditar ou desqualificar quem vem de fora perante a comunidade. Dentro dessa mentalidade, que tenta perpetuar-se a todo o custo para que não haja mudanças no status quo, pertencer geneticamente a esta terra tem mais importância do que ter formação educacional ou ser um agente/cidadão competente dentro da comunidade.
Não é possível que aceitemos essa discriminação como argumento sério em qualquer tipo de debate. É preciso expurgá-la o mais depressa possível de nosso meio sob pena de permanecermos estagnados em nosso desenvolvimento, arraigados nas mesmas premissas e prerrogativas que impedem o usufruto da diversidade na resolução de nossos problemas, principalmente aqueles perpetuados pela falta de ação dessas mesmas elites preconceituosas.
Sim, somos xenófobos, mas o momento é apropriado para mudar essa mentalidade. A chegada de novos forasteiros a cada ano para estudar - rezemos para que esse número cresça rapidamente - significa que o sentimento de exclusão sofrido por estes será o estopim que deflagrará uma reação mais forte a esse comportamento tão nocivo a maior parte da comunidade. Precisamos estar atentos para apoiar este movimento que poderá nos libertar desse aspecto obscuro e indigesto de nossa personalidade social.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Promessas não cumpridas

Eu não culpo os jovens que detestam a política porque é difícil ter estômago para aguentar as artimanhas do poder e a cara-de-pau daqueles políticos que mentem sem nenhuma vergonha apenas visando votos. Prometer e não cumprir é o mesmo que debochar do povo. Esses se fiam no fato de que as pessoas não têm memória e portanto são estúpidas o suficiente para serem enganadas quantas vezes for necessário. 
Tenho para mim que essa corja tem razão. As pessoas não cobram as promessas que ouviram e ainda, muitas vezes, reelegem os devoradores do dinheiro público em troca de favores mesquinhos. O individualismo, aliás, explica muita coisa em nossa moderna sociedade. Que saudade das ideologias, que já morreram todas sem que nossos filhos pudessem usufrui-las. Ficaram nos livros de História para alguém recordar algum dia. Dentro dos partidos políticos, não existe mais a luta por uma causa, mas somente pela causa pessoal. Confesso que hoje voto na pessoa, como dizem, porque sinto uma leve esperança de que esta, tendo alguns valores compatíveis com os meus, possa a vir a fazer um bom trabalho. Não é o que todos pensam? Concluem isso diante da falência dos partidos. Nossas três maiores agremiações perderam-se no autoritarismo, no fisiologismo e no discurso doutrinário que, apesar de intitulado "democrático", não respeita a diversidade de opiniões.
É difícil para os jovens, diante disso, terem em mente novos tempos. Mas em todos os lugares do mundo todos os dias há provas de que as pessoas podem mudar sua realidade se assim quiserem. Se a política move a história, são os jovens que mudam o modo como se faz política. É preciso que eles imprimam a sua marca nesse tempo que já é futuro para que possamos voltar a sonhar.