quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Devagar com o angú

Foi com certo alívio que li o artigo do professor de matemática Daniel Lavouras, publicada na quarta-feira em ZH. Até então acreditava que nadava sozinha contra a maré. Fiz o Enem em 2009 e tive a mesma impressão sobre o Exame que vem se tornando um dos principais modos de ingresso em muitas universidades. É injusto e precisa ser repensado.
O exame não contempla a grade do atual Ensino Médio, o que faz estudantes com ótimas notas no boletim irem mal nesta prova decisiva. Os pais deles com certeza se sairiam muito melhor por sua amadurecida capacidade de reflexão acerca da realidade, ponto insistente do exame. Então destaco este como um primeiro aspecto a ser avaliado pelo governo: é justo exigir dos estudantes tal desempenho antes de se repensar o currículo do Ensino Médio? O governo investe no acesso à universidade sem melhorar a qualidade da educação de base, que hoje é ruim. Os estudantes estão sofrendo, sem dúvida, para dar conta de um modelo de prova para o qual não estão preparados dentro do sistema de ensino vigente.
Outra questão, também levantada pelo Daniel, é o peso do Enem em relação aos cursos pretendidos. Ele passou em Medicina acertando mais questões de matemática e quase nada de biologia. Ao contrário, mas não menos intrigante, foi eu não ter conquistado uma vaga em Letras ao ter praticamente gabaritado as provas de linguagens e literatura.Isso realmente é dissonante com o que se espera depois na universidade - pessoas com habilidades para exercer as profissões que gostam.
Acredito que a interpretação de problemas e a interligação dos conhecimentos associados a importantes assuntos da realidade é mérito indiscutível do Enem, mas o exame não pode ser a única forma de avaliação para o ingresso em um curso superior, pelo menos não nos moldes atuais. Por que as notas do Ensino Médio, por exemplo, não podem ser consideradas pelas universidades, estimulando os jovens a serem bons estudantes durante todo o ano? Dar tanto peso a uma prova só e que já deu tantos problemas técnicos por conta de suas próprias dimensões é no mínimo uma inconsequência. Estamos indo com muita sede ao pote.

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