terça-feira, 29 de março de 2011

Pague para plantar, reze para colher

Ontem escutei o lamento de um produtor rural em rede nacional que sintetiza bem as dificuldades que vive o Brasil para avançar em seu desenvolvimento. "A gente tem de rezar para que chova no plantio e para que pare de chover na colheita".
A frase singela revela duas situações dramáticas para quem trabalha no campo. A primeira delas é a dependência astronômica que os agricultores possuem das condições climáticas ideais, já que lhes falta tecnologia, conhecimento dos manejos do solo e, claro, recursos financeiros. Se vier estiagem ou mangas d'água, adeus, a única saída é o banco ou a anistia do governo. A segunda situação aparece na hora da colheita. Se chover não é possível colher e corre-se o risco de perder a qualidade do grão. Mas mesmo que se consiga esse feito, o que fazer com uma vasta produção se as estradas não tem trafegabilidade?
São lastimáveis as condições de nossas estradas. Ñem vamos falar em asfaltos esburacados nas rodovias, que atrasam em horas e horas a entrega das remessas. Pensem nas pequenas propriedades nas cidades pequenas onde a terra de chão ainda é o único acesso.  Em dias de chuva, nem adianta tentar sair por uma delas. São estradas que necessitam de patrolamento e encascalhamento constantes.
Diante da imobilidade característica das autoridades brasileiras - ao contrário das japonesas que exigem o conserto de uma autoestrada em seis dias após um terremoto - imaginemos o sofrimento de quem vive da terra. Anos se passam e a história não muda. O Brasil errou enormemente ao ceder à ganância das empreiteiras que queriam fazer estradas. Desde os anos 50, a matriz de desenvolvimento do país assentou-se nas rodovias e abandonou o transporte ferroviário, um dos mais baratos e rápidos, principalmente para o escoamento de grandes safras. Agora o que podemos ver é a imensa fila dos caminhoneiros de grãos pelos principais portos do país esperando um lugar ao sol para descarregar. Nosso país precisa mesmo de muitos investimentos, especialmente de bom senso.

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